terça-feira, 17 de maio de 2011

DICIONÁRIO DA CAPOEIRA

- A -
Abadá - s. m. 1. Camisolão
folgado e comprido usado pelos
nagôs, semelhante ao traje
nacional da Nigéria (Aurélio).
Waldeloir Rego diz: "No Cais do
Porto sempre estiveram os mais
famosos capoeiras, mas a roupa
usual, na sua atividade de
trabalho, era calça comum, com
bainha arregaçada, pés descalços e
camisa tipo abadá, feita de saco
de açúcar ou farinha do reino, e
nas horas de folga do trabalho,
assim se divertiam jogando sua
capoeira." 2. Associação Brasileira
de Apoio e Desenvolvimento da
Arte - Capoeira, a Abadá-
Capoeira, criada em 1988 por
mestre Camisa, irmão mais novo
do mestre Camisa Roxa (um dos
bambas de mestre Bimba).
Durante 15 anos, mestre Camisa
pertenceu ao grupo Senzala de
Capoeira, para depois sair e
fundar a Abadá-Capoeira.
Abalá - v. Corruptela de abalar
(v.) Origem controvertida. José
Leite de Vasconcelos
("Etimologias Portuguêsas", in
Revista Lusitana, v.II., p.267), em
parecer aceito por José Pedro
Machado (Dicionário Etimológico
da Língua Portuguesa), propõe o
latim hipotético "advalare" (ad
vallen), na idéia de "ir para
baixo", e depois, por
generalização do significado,
"pôr-se em movimento", etc.
Abará - [Do ioruba] s. m.
Pequeno bolo de feijão, ralado
sem a casca, condimentado e
cozinhado em banho-maria
envolvido em folhas de bananeira.
ABCA - Sigla da Associação
Brasileira de Capoeira Angola, a
mais representativa entidade de
Capoeira Angola da Bahia, que
teve efetivada a sua criação por
influência de intelectuais e
capoeiristas. Funciona hoje no
casarão amarelo da Rua Gregório
de Mattos, no Centro Histórico de
Salvador/BA. Teve como primeiro
presidente Mestre João Pequeno
de Pastinha, e da primeira
diretoria faziam parte também os
mestres Moraes, Cobrinha Mansa,
Jogo de Dentro e Barba Branca....
Afoxé - s. m. Procissão ritual de
um candomblé, que durante o
Carnaval vai se misturar com a
festa popular.
Agogô - s. m. instrumento de
música religiosa, composto de
dois sininhos metálicos desiguais,
que se bate com uma varinha
igualmente de metal.
"Alfinete" - (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de
Abreu) s. m. faca, estoque.
"Alto da sinagoga" - (gíria
antiga, transcrita em 1886 por
Plácido de Abreu) s. m. rosto,
cabeça.
Angola - s. f. 1. Nome de um país
africano. José Matias Salgado diz
que o nome primitivo era
Ndoango, que os portugueses
fizeram Dongo ou Ndongo como
registra Quintão, traduzido por
canoa grande. Na língua bunda
esta palavra dongo significa um
tipo de embarcação, a canoa, toda
construída de um só pau; sendo
muito semelhante à figura do
reino de Angola, deram-lhe os
antigos o nome de Dongo, que
parece bem apropriado. O nome
atual de Angola foi dado pelos
portugueses, pelo fato de os reis
ou sobas da região serem
chamados Ngola, daí a origem do
topônimo Angola. 2. Designa a
capoeira chamada Angola, em
oposição àquela chamada
Regional. 3. Designa um dos
toques de berimbau para o jogo
de capoeira.
Angolêro - adj. m. Corruptela de
angoleiro, derivado de Angola.
Designa o jogador da capoeira
chamada Angola.
Anum - s. m. Pássaro preto do
gênero Crotophaga, Linneu. É um
pássaro popularíssimo no nordeste
do Brasil, que a imaginação
popular associa ao negro, de
maneira jocosa. Assim, quando um
negro tem os lábios muito
grossos, diz-se que tem bico de
anum. O termo vem do tupi anu,
vulto preto, indivíduo negro.
Apulcro de Castro - Além das
maltas, há indícios de outras
formas coletivas de organização
dos capoeiras, nos instantes finais
da escravidão no país. Observa-se,
por exemplo, nítida aproximação
entre capoeiristas e abolicionistas
no depoimento do jornalista Carl
Von Koseritz (Imagens do Brasil,
publicado na Alemanha em 1885)
ao comentar o linchamento do
negro Apulcro de Castro,
proprietário do pasquim de
escândalos Corsário:
"[alguns dias depois do
linchamento] ao cair do
crepúsculo, grandes quantidades
de capoeiras (negros escravos
amotinados) e semelhantes
'indivíduos catilinários' se
reuniram na praça de São
Francisco e começaram, ali e na
rua do Ouvidor, a apagar os
bicos de gás, e, logicamente, a
destruir os lampiões, enquanto
gritavam alto e bom som "Viva
a Revolução" (...) o Rio tem nos
seus capoeiras um mau exemplo
e deles se aproveita a
propaganda revolucionária dos
abolicionistas, sublevando os
homens de cor pela morte do
negro Apulcro (...)."
Aquinderreis - interj. Corruptela
de aqui d'el-Rei. É uma oração
elíptica, onde falta o verbo
acudam, que formaria acudam
aqui d'el-Rei. Era a maneira de se
pedir socorro antigamente, por se
entender el-Rei o único capaz de
socorrer e dar proteção armada a
alguém.
Armada - s. f. Golpe contundente
do jogo de Capoeira. Um dos
movimentos giratórios básicos do
jogo, no qual o capoeirista gira
sobre seu eixo, com uma das
pernas estendidas
horizontalmente, visando atingir o
adversário com o lado externo do
pé, nas costelas ou na cabeça.
Arpão de cabeça - s. m. É uma
cabeçada aplicada no peito ou no
abdome do adversário. Deve-se
tomar o cuidado de entrar com as
mãos cruzadas pouco abaixo da
cabeça, para anular a possível
joelhada no rosto.
Arrastão - s. m. Quando acossado
frontalmente, o capoeirista
projeta-se para frente e para
baixo, buscando agarrar as pernas
do adversário na altura dos
calcanhares e, num movimento
brusco, puxá-las para cima,
enquanto, com a cabeça na altura
do abdome do oponente,
empurra-o para trás, derrubando-
o. É muito perigoso aplicá-lo,
porque, se não for bastante
rápido, o capoeirista expõe-se a
receber uma joelhada no rosto.
"Arriar" - (gíria antiga, transcrita
em 1886 por Plácido de Abreu)
v. deixar de jogar capoeira.
Aruandê - s. m. Trata-se do
vocábulo Luanda, acompanhado de
um a protético, seguido da troca
do l pelo r na referida palavra e
um ê exclamativo. Daí a
composição a+Luanda+ê.
Asfixiante - s. m. Soco, murro
direto aplicado na região inferior
do rosto do oponente. Segundo
Mestre Bola Sete (A Capoeira
Angola na Bahia, Pallas, Rio de
Janeiro, 1997), é golpe
introduzido por Mestre Bimba, e
que, como é o caso da cintura
desprezada, dos balões e das
gravatas, fazia parte das
seqüências criadas pelo mestre,
mas só era aplicado nos
treinamentos realizados no
C.C.F.R. e pelos demais
praticantes da capoeira regional
entre si, em suas respectivas
Academias e jamais utilizados no
jogo contra capoeiristas de outras
escolas, que não utilizassem o
método de Bimba.
Aú - s. m. Movimento básico do
jogo de Capoeira, utilizado como
fuga e deslocamento. Projetando-
se lateralmente, o capoeirista leva
as mãos ao chão (uma, depois a
outra) apoiando-se nelas enquanto
eleva as pernas, como se
"plantasse uma bananeira",
completando o giro e voltando à
posição inicial, de pé.
Aviso - Segundo Waldeloir Rego,
Mestre Canjiquinha (Washington
Bruno da Silva) usava um toque
chamado de "Aviso", que seu
mestre Aberrê dizia ser tocado
por um observador, um tocador
que ficava num oiteiro, vigiando a
presença do senhor de engenho,
capitão do mato ou a polícia. Tão
logo era sentida a presença de um
deles, os capoeiristas eram
avisados por meio desse toque.
Em nossos dias, o comum a todos
os capoeiras é o toque chamado
"Cavalaria", usado para denunciar
a presença da polícia montada, do
conhecido Esquadrão de Cavalaria,
cuja grande atuação na Bahia
ocorreu no tempo do chefe de
polícia chamado Pedrito (Pedro
de Azevedo Gordilho), que
perseguia candomblés e
capoeiristas, passando para o
folclore, através da imaginação
popular, em cantigas como:
Toca o pandeiro
Sacuda o caxixi
Anda depressa
Qui Pedrito evém aí.
Axé - s. m. 1. Cada um dos
objetos sagrados do orixá -
pedras, ferros, recipientes, etc. -
que ficam no peji das casas de
candomblé. 2. Alicerce mágico da
casa do candomblé. 3. Axé
designa em nagô a força invisível,
a força mágico-sagrada de toda
divindade, de todo ser animado,
de todas as coisas. Corresponde,
grosso modo, à noção tão cara aos
antropólogos, de mana. É a força
sagrada, divina, que todavia não
pode existir fora dos objetos
concretos em que se encontra, de
tal modo que a erva que cura é
axé, e que o alimento dos
sacrifícios é também axé.

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