INSTRUMENTOS

Instrumentos
O acompanhamento musical da
capoeira, desde os primórdios
até nossos dias, já foi feito pelo
berimbau, pandeiro, adufe,
atabaque, ganzá ou reco-reco,
caxixi e agogô. No presente, é
comum vê-la acompanhada por
berimbau, pandeiro, atabaque
(nem sempre), caxixi e agogô
(nem sempre).
Têm esses instrumentos
procedências as mais diversas.
BERIMBAU
Atualmente, é o principal
instrumento musical da capoeira.
É o único que, numa roda de
capoeira, pode figurar sozinho,
sem os demais instrumentos. Os
afro-brasileiros o usavam em
suas festas, e sobretudo no
samba de roda, como até hoje
ainda se vê. Henry Koster,
pesquisador inglês, quando viajou
pelo nordeste do Brasil, observou
e descreveu essas festas, que
incluem o berimbau entre os
instrumentos utilizados, como se
pode ver no seguinte trecho: –
“Os negros livres também
dançavam, mas se limitavam a
pedir licença e sua festa
decorria diante de uma das
suas choupanas. As danças
lembravam as dos negros
africanos. O círculo se fechava e
o tocador de viola sentava-se
num dos cantos, e começava
uma simples toada,
acompanhada por algumas
canções favoritas, repetindo o
refrão, e freqüentemente um
dos versos era improvisado e
continha alusões obcenas. Um
homem ia para o centro da
roda e dançava minutos,
tomando atitudes lascivas, até
que escolhia uma mulher, que
avançava, repetindo os meneios
não menos indecentes, e esse
divertimento durava, às vezes,
até o amanhecer. Os escravos
igualmente pediam permissão
para suas danças. Os
instrumentos musicais eram
extremamente rudes. Um deles
é uma espécie de tambor,
formado de uma pele de
carneiro, estendida sobre um
tronco oco de árvore. O outro é
um grande arco, com uma
corda tendo uma meia quenga
de côco no meio, ou uma
pequena cabaça amarrada.
Colocam-na contra o abdômen
e tocam a corda com o dedo ou
com um pedacinho de pau.
Quando dois dias santos se
sucediam ininterruptamente, os
escravos continuavam a
algazarra até a madrugada.”[1]
O berimbau que hoje se conhece
e se toca em todo o mundo é um
arco feito de madeira específica
(nem toda madeira serve; a mais
usada é a biriba), tendo as pontas
ligadas por meio de um fio de
aço (geralmente, retirado das
bordas de um pneu). Numa das
extremidades, amarra-se uma
cabaça (Cucurbita lagenaria,
Linneu), e esta, quanto mais seca
estiver, melhor. Faz-se na cabaça
uma abertura na parte que se
liga com o caule e, na parte
inferior, dois furinhos por onde
passará o cordão que vai ligá-la
ao arco de madeira e ao fio de
aço. Para tocá-lo, toma-se um
dobrão (moeda antiga) ou um
seixo arredondado e chato, uma
baqueta (ou vaqueta, pequena
vareta de madeira ou de bambu)
e um caxixi. Nos primeiros
tempos da colonização, havia no
Brasil outro tipo de berimbau,
bem menor, tocado com a boca,
conhecido na América Latina
como berimbau de Paris.
Entre os etimólogos, há
verdadeiro desencontro a
respeito da origem do nome
berimbau. A Real Academia
Española registrou o verbete na
12a. edição de seu dicionário,
em 1884, que até hoje ainda
sugere proposição onomatopaica
para a sua origem: “voz imitativa
del sonido de este instrumento”.
Há proposições para origem
africana, de Leite de
Vasconcelos, em artigo publicado
na Revue Hispanique, onde
apresenta o mandinga bilimbano.
[2] Renato Mendonça propõe o
quimbundo mbirimbau, com a
simplificação do grupo
consonantal mb.[3]
Desconhece-se precisamente a
verdadeira origem do próprio
instrumento e por que vias
chegou ao Brasil. Registra-se sua
existência em várias partes do
mundo, inclusive na África, nos
territórios de Iaca e Benguela.
Possui muitas denominações e
vem sendo motivo de estudo, até
mesmo em cadeiras de
departamentos universitários a
ele dedicadas. É considerado o
mais completo instrumento de
percussão. No Brasil, é conhecido
por: berimbau, urucungo,
orucungo, oricungo, uricungo,
rucungo, berimbau de barriga,
gobo, marimbau, bucumbumba,
gunga, macungo, matungo,
rucumbo. Em Cuba, país da
América Latina onde ele é tão
conhecido como no Brasil, é
chamado de sambi, pandiguro,
gorokikamo e também
burumbumba, que deve ser uma
variação de bucumbumba no
Brasil. Há indicações de seu uso
nas práticas religiosas afro-
cubanas, coisa de que não se tem
notícia de se fazer no Brasil.
Burumbumba (buro = falar,
conversar; mbumba = habitáculo
do morto ou espírito “familiar”)
é o instrumento que “fala com os
mortos”.
PANDEIRO:
A origem do termo ainda é
controvertida. No século passado,
Adolfo Coelho relacionava o
vocábulo, com alguma dúvida, ao
latim pandura. Em nossos dias, J.
Carominas o faz derivar de
pandorius, variante de pandura,
tomado do grego pandoura. O
mais sensato, porém, no caso da
língua portuguesa, é acompanhar
Antenor Nascentes e Pedro
Machado, e admitir o espanhol
pandero como gerador do nosso
pandeiro.
Luciano Gallet inclui
erradamente o pandeiro entre os
instrumentos africanos vindos
para o Brasil, enquanto José
Subirá, em sua História de la
Musica (Salvat Editora, 1958),
relaciona o pandeiro como um
dos antiqüíssimos instrumentos
musicais da Índia. Os hebreus o
utilizavam bastante, mormente
em cerimônias religiosas. Na
Idade Média, impôs sua presença
e instalou-se definitivamente na
península ibérica com a invasão
árabe. Os ibéricos o utilizavam
com freqüência em bodas,
casamentos e cerimônias
religiosas, especialmente na
Procissão de Corpus Christi em
Portugal, e, no século XVI, na
Espanha. Teve ainda o pandeiro
grande destaque entre os jograis,
que o levavam de corte em
corte.
O pandeiro entrou no Brasil por
via portuguesa, e se fez presente
já na primeira procissão que aqui
se realizou, a de Corpus Christi,
na Bahia, a 13 de junho de
1549. Depois, foi aculturado e
aproveitado pelos negros em
seus folguedos, o que se
verificou também entre os
negros da América Latina,
especialmente os cubanos: em
Cuba, o pandeiro é um dos
instrumentos da liturgia nagô,
havendo até pandeiros
específicos para orixás.
ADUFE:
O adufe é um pequeno pandeiro
de formato quadrado. Sua
procedência é mourisca. O termo
é de origem árabe, ligado a duff,
tímpano.
Foi instrumento familiar dos
hebreus e, segundo José Subirá,
o tympanum, que aparece no
Gênesis, 31.27 é o adufe. Na
Arábia, teve muito prestígio
entre os monarcas; quando
invadiram a península ibérica, os
árabes levaram consigo o adufe,
que lá teve muito mais prestígio
que o pandeiro.
Assim como o pandeiro, o adufe
entrou no Brasil por via
portuguesa, e também foi
incluído erradamente por
Luciano Gallet entre os
instrumentos africanos vindos
para cá. O adufe foi também
aculturado e aproveitado pelos
negros no Brasil. Foi muito
utilizado, porém hoje não se tem
mais notícia de sua existência.
ATABAQUE:
O termo é de origem árabe; os
etimólogos arabistas aceitam
com unanimidade a forma tabl,
que Diez nomeia como
maurische Panke (tímpano
mouro). Espalhou-se o vocábulo
na área românica. E além do
português antigo atabal e tabal,
deu no espanhol atabal, asturiano
tabal, santanderino tabal, catalão
tabal, italiano ataballo, taballo,
provençal tabalh e moderno
francês attabal. Assim como o
pandeiro e o adufe, o atabaque
se encontra presente na poética
medieval, principalmente por
obra dos Reis Católicos de
Espanha, Isabel e Fernando de
Aragão, que muito o
prestigiavam, por meio dos
jograis, bodas e outras festas.
É um instrumento oriental muito
antigo entre os persas e os
árabes, muito divulgado na
África. Embora os africanos já
conhecessem o atabaque,
acredita-se que ao chegarem ao
Brasil já o encontraram aqui,
trazido pelos portugueses para
ser usado em festas e procissões
religiosas, como o pandeiro e o
adufe. Desconhece-se a história
de como passou a ser utilizado
na capoeira.
(aguarde alguns dias para ver
aumentada esta relação dos
instrumentos musicais
utilizados na prática da
capoeira.)