sábado, 21 de maio de 2011

DICIONÁRIO DA CAPOEIRA -C-

- C -
Cabaça - s. f. (Cucurbita
lagenaria, Linneu) É uma planta
rampante. De uso múltiplo e
secular entre os utensílios
domésticos, herdados da indiaria.
Usa-se na construção do
berimbau: numa de suas
extremidades, amarra-se uma
cabaça, e esta, quanto mais seca
estiver, melhor. Faz-se na cabaça
uma abertura na parte que se liga
com o caule e, na parte inferior,
dois furinhos por onde passará o
cordão que vai ligá-la ao arco de
madeira e ao fio de aço.
Cabecêro - s. m. Corruptela de
cabeceiro, derivado de cabeça, do
latim capitiu. Cabeceiro designa o
capoeira que usa, com freqüência,
golpes com a cabeça.
Cabinda - s. 2 g. Dizem
cambinda, no Brasil. 1. Região ao
norte de Angola, entre o rio
Zaire, o ex-Congo belga e o
Atlântico. 2. Foi sinônimo do
escravo africano. Indivíduo dos
cabindas, povo banto da região de
Cabinda. 3. A língua dos cabindas.
4. Dança mímica popular afro-
brasileira, parte de certos
maracatus em que os participantes
dançam pulando de cócoras à
maneira de sapos.
Cabôco - s. m. Corruptela de
caboclo, de origem ainda
controversa. Significa o nascido de
pai indígena e mãe africana e, de
um modo geral, designa o
indígena do Brasil e da América.
Cabra - Além de ser designativo
de um animal, é também o do
mulato escuro e do indivíduo
agressivo e de mau caráter. Esse
tipo de gente sempre inquietou a
segurança pública.
Cabula - s. m. Nome de um
bairro de Salvador. Termo de
origem ainda desconhecida. Esse
bairro foi refúgio de negros
africanos e até hoje está lá a
marca de suas presenças, com os
inúmeros candomblés, sobretudo
os de nação Angola, que possuem
um toque chamado cabula, daí a
provável origem do nome do
bairro.
"Caçador" - s. m. tombo que o
capoeira dá, arrastando-se no
chão sobre as mãos e um dos pés
e estendendo a outra perna direita
de encontro aos pés do
adversário.
Calunga - s. f. 1. Divindade
secundária do culto banto. Deusa
do mar e também dos cemitérios
(Angola); 2. O fetiche dessa
divindade; 3. Boneca levada na
procissão dos Maracatu.
Camará - s. m. Corruptela de
camarada, do espanhol, "grupo de
soldados que duermen y comen
juntos" e este do latim vulgar
cammara. No linguajar da
capoeira, aparece com a acepção
pura e simples de companheiro.
"Cambar" - (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de
Abreu) v. Passar de um partido
para outro.
Camboatá - s. m. Designa uma
qualidade de peixe pequeno, que
vive em água doce. Teodoro
Sampaio deriva de caabo-oatá, o
que anda pelo mato. Não obstante
ser popular a forma camboatá, há
as alterações cambotá, camuatá e
tamoatá.
Camunjerê - Termo desconhecido
na sua origem e na sua acepção.
Candomblé - s. m. Termo de
origem ainda desconhecida.
Designa a religião que os africanos
trouxeram para o Brasil. Sua
maior área de expansão é na
Bahia e é designação mais
específica da religião dos povos
nagôs. Existiu no Brasil uma dança
chamada candombe, muito
comum nos países da região do
Prata. Como quase todos os
folguedos dos negros, essa dança
esteve sempre na mira policial. Os
candombes eram feitos em casa,
em recinto fechado, não obstante
saírem às ruas nos dias propícios.
Era um folguedo profano, com
interligações religiosas com o
candomblé, como é o afoxé.
Cão - s. m. Do latim canes. Em
geral, aparece nas cantigas de
capoeira com a acepção de
demônio.
Ca ô cabiesi - Corruptela de Ka
wo ká biyè sì, expressão com que
os povos nagôs saúdam Xangô,
deus do fogo e do trovão e que,
segundo Johnson, foi o quarto rei
lendário de Oyó, capital dos povos
iorubás.
Capadócio - s. m. 1. De,
pertencente ou relativo à
Capadócia (Ásia Menor). 2. Que
tem maneiras acanalhadas. 3.
Impostor, trapaceiro, parlapatão.
Era como alguns cronistas se
referiam aos capoeiras, até
começos do século XX.
Capitão-do-mato - s. m. Bras.
Indivíduo que se dedicava à
captura dos escravos fugidos.
"Capitães-do-mato, assim se
chamavam os caçadores de
negros, aos quais a lei em
regulamentos especiais concedia
poderes discricionários contra
aquelas miseráveis criaturas que
fugiam ao jugo da
escravidão." (João Ribeiro,
História do Brasil.)
"Carrapeta" - s. m. Pequeno
esperto e audacioso que brama
desafiando os inimigos.
Casa-Grande - s. f. Construção
que servia de habitação aos
senhores de engenho, no Brasil
colonial. Caracterizava-se por
grossas paredes de taipa ou de
pedra e cal, coberta de palha ou
de telha-vã, alpendre na frente e
dos lados, telhados caídos num
máximo de proteção contra o sol
forte e as chuvas tropicais.
Completada pela senzala, a casa-
grande representa todo um
sistema econômico, social,
político: de produção (a
monocultura latifundiária); de
trabalho (a escravidão); de
transporte (o carro de boi, o
bangüê, a rede, o cavalo); de
religião (o catolicismo de família,
com capelão subordinado ao pater
familias, culto dos mortos, etc.);
de vida sexual e de família (o
patriarcalismo polígamo); de
higiene do corpo e da casa (o
"tigre", a touceira de bananeira, o
banho de rio, o banho de gamela,
o banho de assento, o lava-pés);
de política (o compadrismo). Foi
ainda fortaleza, banco, cemitério,
hospedaria, escola, santa casa de
misericórdia amparando os velhos
e as viúvas, recolhendo órfãos.
Cata-corumba - expressão
cunhada por Mestre Suassuna para
designar o agarramento no jogo
da Capoeira, a imobilização do
adversário, prática totalmente
contrária às regras e ao espírito
da Capoeira, apesar de muito
utilizada hoje em dia, nestes
tempos de desfiguração da arte/
luta.
Cativo - adj. Que não goza de
liberdade; escravo.
"Caveira no espelho" - (gíria
antiga, transcrita em 1886 por
Plácido de Abreu) s. f. Cabeçada
na cara.
Ceia dos camarões - O temido
Major Vidigal instituiu uma seção
de torturas para os capoeiristas,
ironicamente chamada "Ceia dos
Camarões". Curiosamente, Vidigal
também era um capoeirista
habilidoso.
Chamada - s. f. Um dos rituais da
capoeira tradicional. As chamadas,
também conhecidas como
"passagens", erroneamente
interpretadas como simples
momentos de descanso durante o
jogo, constituem um momento de
extremo perigo; fazem parte dos
rituais da capoeira tradicional, e
visam a despertar a malícia dos
seus praticantes. Quando for
chamado, aproxime-se com
bastante cautela, pois, dentro das
normas da capoeiragem, o
capoeirista que chama poderá
aplicar o golpe que desejar, caso o
outro aproxime-se sem o devido
cuidado.
Chibata - s. f. 1. Vara delgada
para fustigar; junco. 2. P. ext.,
chicote: cordel entrançado ou
correia de couro, ligada ou não a
um cabo de madeira,
ordinariamente para castigar
animais (ou escravos...) 3. Bras.
Capoeira: Golpe traumatizante em
que o capoeira, aproveitando-se
de eventual posição abaixada do
parceiro de jogo, apóia-se no chão
com uma das mãos (como se
fosse para um "pião-de-mão") e
projeta todo o corpo por cima dos
ombros; uma das pernas estará
flexionada, e fará o apoio com a
planta do pé no chão, quando o
giro se completar; a outra,
esticada, descerá qual chibatada
sobre o corpo do oponente: ele,
lá, que se cuide! Obs.: O texto
correspondente no Novo
Dicionário Aurélio, referente ao
significado do termo chibata na
Capoeira, é-nos, quase
incompreensível; mestre Aurélio
descreve talvez uma seqüência
em que o capoeira tenta aplicar
uma rasteira (em pé), erra o alvo,
gira e se lança na chibata...
"Chifrada" - (gíria antiga,
transcrita em 1886 por Plácido de
Abreu) s. f. Cabeçada.

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