quinta-feira, 21 de abril de 2011

MESTRE PASTINHA


Vicente Joaquim Ferreira
Pastinha (Salvador, 5 de abril
de 1889 — Salvador, 13 de
novembro de 1981), foi um dos
principais mestres de Capoeira
da história.
Mais conhecido por Mestre
Pastinha, nascido em 1889 dizia
não ter aprendido a Capoeira em
escola, mas "com a sorte".
Afinal, foi o destino o
responsável pela iniciação do
pequeno Pastinha no jogo, ainda
garoto. Em depoimento prestado
no ano de 1967, no 'Museu da
Imagem e do Som', Mestre
Pastinha relatou a história da
sua vida: "Quando eu tinha uns
dez anos - eu era franzininho -
um outro menino mais taludo do
que eu tornou-se meu rival. Era
só eu sair para a rua - ir na
venda fazer compra, por exemplo
- e a gente se pegava em briga.
Só sei que acabava apanhando
dele, sempre. Então eu ia chorar
escondido de vergonha e de
tristeza." A vida iria dar ao
moleque Pastinha a oportunidade
de um aprendizado que marcaria
todos os anos da sua longa
existência.
"Um dia, da janela de sua casa,
um velho africano assistiu a uma
briga da gente. Vem cá, meu
filho, ele me disse, vendo que eu
chorava de raiva depois de
apanhar. Você não pode com ele,
sabe, porque ele é maior e tem
mais idade. O tempo que você
perde empinando raia vem aqui
no meu cazuá que vou lhe ensinar
coisa de muita valia. Foi isso que
o velho me disse e eu fui".
Começou então a formação do
mestre que dedicaria sua vida à
transferência do legado da
Cultura Africana a muitas
gerações. Segundo ele, a partir
deste momento, o aprendizado
se dava a cada dia, até que
aprendeu tudo. Além das
técnicas, muito mais lhe foi
ensinado por Benedito, o
africano seu professor. "Ele
costumava dizer: não provoque,
menino, vai botando devagarinho
ele sabedor do que você sabe
(…). Na última vez que o menino
me atacou fiz ele sabedor com
um só golpe do que eu era capaz.
E acabou-se meu rival, o menino
ficou até meu amigo de
admiração e respeito."
Foi na atividade do ensino da
Capoeira que Pastinha se
distinguiu. Ao longo dos anos, a
competência maior foi
demonstrada no seu talento
como pensador sobre o jogo da
Capoeira e na capacidade de
comunicar-se. Os conceitos do
mestre Pastinha formaram
seguidores em todoBrasil. A
originalidade do método de
ensino, a prática do jogo
enquanto expressão artística
formaram uma escola que
privilegia o trabalho físico e
mental para que o talento se
expanda em criatividade. Foi o
maior propagador daCapoeira
Angola, modalidade "tradicional"
do esporte no Brasil.
Em 1941, fundou a primeira
escola de capoeira legalizada
pelo governo baiano, o Centro
Esportivo de Capoeira Angola
(CECA), noLargo do Pelourinho,
na Bahia. Hoje, o local que era a
sede de sua academia é um
restaurante do Senai.
Em 1966, integrou a comitiva
brasileira ao primeiro Festival
Mundial de Arte Negra no
Senegal, e foi um dos destaques
do evento. Contra a violência, o
Mestre Pastinha transformou a
capoeira em arte. Em 1965,
publicou o livro Capoeira Angola,
em que defendia a natureza
desportista e não-violenta do
jogo.
Entre seus alunos estão Mestres
como João Grande, João Pequeno,
Curió, Bola Sete (Presidente da
Associação Brasileira de
Capoeira Angola), entre muitos
outros que ainda estão em plena
atividade. Sua escola ganhou
notoriedade com o tempo,
frequentada por personalidades
comoJorge Amado, Mário Cravo
e Carybé, cantada por Caetano
Veloso no disco Transa (1972).
Apesar da fama, o "velho
Mestre" terminou seus dias
esquecido. Expulso do Pelourinho
em 1973 pela prefeitura,
sofreu dois derrames seguidos,
que o deixaram cego e indefeso.
Morreu aos 93 anos.
Vicente Ferreira Pastinha
morreu no ano de 1981.
Durante décadas dedicou-se ao
ensino da Capoeira. Mesmo
completamente cego, não deixava
seus discípulos. E continua vivo
nos capoeiras, nas rodas, nas
cantigas, no jogo. "Tudo o que eu
penso da Capoeira, um dia
escrevi naquele quadro que está
na porta da Academia. Em cima,
só estas três palavras: Angola,
capoeira, mãe. E embaixo, o
pensamento:
"Mandinga de escravo em
ânsia de liberdade, seu
princípio não tem método e
seu fim é inconcebível ao
mais sábio capoeirista.

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